terça-feira, 21 de outubro de 2014

[EU VI] A segunda semana de MOSAICO por Josias Ribeiro

Memórias de uma Calcinha Emagrecedora, do Teatro Candeia - apresentado no dia 10 de outubro

A introdução do espetáculo já é um divertimento a parte, uma mulher saudando o público, visivelmente perturbada e vestindo um pijama. O desconforto aumenta e a suposta “timidez” da personagem vem à tona e ela começa a cantarolar uma música do repertorio. 

A partir daquele momento adentramos no que chamo da “difícil arte de fazer comédia e manter um monólogo”, para uns parece fácil, mas, no meu entendimento, é muito mais difícil fazer o público rir do que manter esse mesmo público atento em um monólogo. O espetáculo “Memória de uma calcinha emagrecedora” do grupo “Candeia” apresenta um texto fácil mas com algumas grandes exigências, entreter, captar a atenção e divertir o público. 

O monólogo, que tem a atuação da atriz Julia Zulke, é um espetáculo com altos e baixos, que leva o público a gargalhadas, mas em alguns momentos fica um pouco “cansativo” e a desatenção é inevitável. 


Não que o espetáculo não tenha o seu mérito, pelo contrário, ele é divertido, a atriz é ótima, porém o uso de “fórmulas prontas” para o público cair na gargalhada e algumas expressões faciais da personagem, em alguns momentos cansam. A caracterização da “perturbada personagem” Grinalda e sua suposta doença, Sindrome do Karaoke, garantem momentos de extrema diversão e, a cada música tocada, uma explosão de gargalhada pelo repertório escolhido.

Observa-se que a interferência de uma mãe dominadora na personalidade é algo marcante na vida do ser humano. Também a solidão toca profundamente e seu estado limiar de demência faz pensar em que eu sou e o que querem que eu seja e são esses conflitos, sempre carregados de humor, que levam o expectador a reflexão, atingindo assim o desafio de captar a atenção do público. 

Assistir esse espetáculo é assistir uma montagem teatral em que uma atriz consegue, grande parte do tempo do espetáculo, entreter, divertir e captar a atenção do público. A outra parte do tempo, sem dúvida nenhuma, será aprimorada, revista e, com novas apresentações, irá se tornar um espetáculo para diversos públicos e garantindo assim ainda mais gargalhadas.

O Santo Parto, da Cia. Retalhos de Teatro e Teatro Por Que Não? - apresentado no dia 11 de outubro

A Cia Retalhos de Teatro acerta a mão, mais uma vez, no espetáculo “O Santo Parto”. O texto apresenta uma mistura de drama e comedia surreal e traz o conflito em fazer uma 
escolha. 

Uma gravidez masculina, mortos que reaparecem para lembrar do passado, são alguns dos pontos que tornam esse espetáculo totalmente surreal, porém com lições e reflexões realíssimas e muito atuais. 

A dúvida em seguir uma escolha ou abandoná-la por completo em detrimento de um apelo tão forte e especial como o amor, é a tônica central da trama que emociona, toca e seduz o espectador. Atores incríveis em cena e objetos cenográficos que remetem o imaginário de uma capela, sacristia, quarto, além de um figurino e caracterização super bacana fazem desse espetáculo um espetáculo de qualidade. 

André Galarça que encara o personagem central, qual seja, o Padre que se descobre grávido de um jovem sedutor, está impecável e sua dramatização é muito boa. Julio Aranda na construção de seu bispo está também impecável e utiliza de bordões atuais para compor o seu personagem, uma maravilha vê-lo em cena. 

Os diálogos são rápidos e reflexivos, o texto é denso, porem torna-se leve pela dose de humor imposta pelos personagens em seus diálogos. A Entrada do São Jorge na trama, interpretado pelo ator Felipe Martinez, torna ainda mais conflituoso o diálogo entre os religiosos que não acreditam no santo. Também é Felipe que dá vida ao personagem do jovem que teve um relacionamento com o Padre e que volta para convencê-lo a partir com ele. 

Mas é a entrada da atriz Alexia Karla que impressiona pela postura da atriz. Representando uma escrava ela entra com altivez, com leveza e conduz uma história triste e com requintes de crueldade. 

Um texto primoroso, interpretações sensacionais fazem deste espetáculo um dos grandes momentos das montagens de nossos grupos locais. 

O desejo, a luxuria, o sexo e o amor se encontram nessa peça que tem um dos beijos mais marcantes e que muitos aguardaram durante muito tempo na televisão e que acontece no palco. Interpretações que me levaram as lágrimas na cena em que o Padre se despede de seu amor e este querendo muito que ele partisse com ele. 

Sem dúvida um primoroso espetáculo, que ainda tem como destaque a concepção de figurino, a trilha sonora, a iluminação e a direção. 

Parabéns e obrigado Cia Retalhos de Teatro e Teatro Por Que Não?

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